domingo, 25 de abril de 2010

Publicações do dia 21: "Gerry" e "Mary"


"Gerry" (2002) de Gus Van Sant analisado por Marta Fernandes:


(...) Disse ao rei da Babilónia que tinha na Arábia um labirinto melhor e que, se Deus quisesse, lho daria a conhecer algum dia. Depois regressou à Arábia, juntou os seus cavalos e alcaides e arrasou os reinos da Babilónia com tão venturosa fortuna que derrubou os seus castelos, dizimou os seus homens e fez cativo o próprio rei. Amarrou-o sobre um camelo veloz e levou-o para o deserto. Cavalgaram três dias, e disse-lhe: “Oh, rei do tempo e substância e símbolo do século, na Babilónia quiseste-me perder num labirinto de bronze com muitas escadas, portas e muros; agora o Poderoso achou por bem que eu te mostre o meu, onde não há escadas a subir, nem portas a forçar, nem cansativas galerias a percorrer, nem muros que impeçam os passos.” Depois desatou-lhe as cordas e abandonou-o no meio do deserto, onde morreu de fome e sede. (...)

Jorge Luís Borges, O Aleph

A obra do cineasta que alterou o nosso olhar sobre a juventude americana é uma obra que se desenvolveu nos últimos 25 anos de uma forma cíclica, com grupos de filmes marcados por afinidades. Mala Noche (1985), No Trilho da Droga (1989), A Caminho de Idaho (1991) e Até as Vaqueiras ficam tristes (1993) fazem parte de um primeiro momento, a que se segue um período de flirt com a indústria, que tem o seu apogeu com O Bom Rebelde (1997) e lhe permite a extravagância de realizar um filme de outro, Psycho, um remake quase absoluto plano por plano do filme de Hitchcock, em que existem apenas micro-variações sobre o projecto original, uma das quais a textura da cortina de duche, um mosaico no filme de Gus Van Sant, uma estrutura caleidoscópica a partir da qual se pode olhar para o seu trabalho. Depois de À Procura de Forrester, Gus Van Sant inicia um novo ciclo em que regressa a um formato mais livre em que trabalhará sem guião. Gerry (2002) é o primeiro filme desse novo ciclo composto por três filmes que partem de um fait divers. É essencial compreender Gerry para perceber os filmes que se seguem na carreira de Gus Van Sant. Elephant (2003) é também inspirado num fait divers, o massacre do liceu de Columbine, em que dois alunos matam 15 pessoas. A ideia de fazer um filme sobre o liceu de Columbine precede a realização de Gerry, mas é este filme que fará com que Gus Van Sant enverede pelo olhar que domina Elephant. A Elephant seguem-se Last Days (2005) e Paranoid Park (2007), o primeiro encerra a trilogia dos filmes baseados em fait divers, mas preferimos incluir também o último, apesar de ser uma adaptação de um romance, numa tetralogia em que o espectro da morte é uma constante.

Em Gerry, dois amigos perdem-se no deserto e apenas um volta, filme experimental em que dois homens caminham durante três dias e três noites num deserto sem fim, uma paisagem que os reduz à sua pequenez, em que a morte espreita, de onde apenas um sairá vivo.

Ler análise na íntegra aqui.


"Mary" (2005) de Abel Ferrara analisado por Gonçalo Jordão:

Tudo é fora do comum neste Mary de Abel Ferrara. Seja em relação à súmula da sua própria obra, que vinha de um excelente mas menosprezado New Rose Hotel (1998) e um menos interessante ‘R Xmas (2001), e seguiria para The Go Go Tales (2007), todos eles filmes formal e conceptualmente distantes deste; seja interiormente, onde mesmo depois de apresentada(s) a(s) ‘premissa(s)’ (filme dentro de filme, blocos documentais, trio de protagonistas que chocam e se completam), baralha e distribui novas cartas, tornando quase obrigatório um segundo (e terceiro, e quarto, e...) visionamento.

Relativamente às condições exteriores, lembremo-nos do contexto da época: The Da Vinci Code fazia de Dan Brown uma rockstar, com todo o circo mediático que isso arrasta, incluindo adaptação para cinema a cargo do ‘tarefeiro’ Ron Howard em 2006; mas um ano antes de Mary, Mel Gibson havia ‘presenteado’ o mundo com o quase slasher-movie acerca dos últimos dias de Cristo, The Passion of the Christ, filme que para além da polémica violência ultra-realista, colocou na ordem do dia a discussão acerca da culpa judaica da morte do messias (e se o filme já tinha sido interpretado como anti-semita pelos mais fanáticos, não ajudaram à ‘festa’ as ébrias declarações do autor nesse sentido, mas em muito pior linguagem...).

Ler análise na íntegra aqui.

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