[entrevista a João Canijo, a propósito da estreia do filme Ganhar a Vida, 2001]
Como conjugou a ideia base do filme com o que descobriu após a pesquisa no local?
Andei dois anos em França. Tínhamos a estrutura da Antígona à partida e, conforme as pequenas histórias que iam aparecendo, fomos preenchendo os "buracos", com a investigação que fiz.
[...]
O que vai fazer a seguir?
Ainda está bastante atrasado e não posso dizer muito sobre o próximo filme. Será de novo com a Rita e também com a Beatriz Batarda, que fará de filha dela. A personagem da Rita é uma ex-prostituta, que teve a Beatriz aos 15/16 anos. É um filme sobre o "alterne", algo muito famoso depois do caso do bar "Meia Culpa", em Amarante. Não vai ser kitsch nem sórdido. Vai ser violento, mas como o "Ganhar a Vida" e não como o "Sapatos Pretos". Mas não terá nada a ver com o "Ganhar a Vida". É, mais uma vez, sobre situações-limite.
in Netparque
[artigo a propósito da estreia do filme Noite Escura, 2004]
"Onde é que a tragédia pode ser mais indiferente senão numa casa de alterne, onde o vício do dinheiro e o viciante da noite sufoca tudo?”, diz [João Canijo], não escondendo um fascínio por este universo. Mas é um fascínio, acrescenta, que surge da racionalização de que seria em lugares como este, um mundo de enganos, ilusão, fingimento e representação, que a tragédia poderia banalizar-se.
[…]
“Noite Escura” é o primeiro filme de uma trilogia de Canijo a partir de “Oresteia”, de Ésquilo e corresponde à primeira tragédia, “Agamémnon” – hão-de seguir-se a adaptação de “Coéforas” e “Euménides”. Mas o realizador foi também buscar a tragédia que continua “Agmamémnon”, “Ifigénia em Áulis”, de Eurípedes. Sónia é Ifigénia, a filha de Climnestra (Celeste) e de Agamémnon (Nelson), sacrificada pelo pai; Carla é como Aquiles (quer salvar Ifigénia) mas a sua personalidade vem de Electra, personagem pela qual Canijo tem uma fixação há anos (já estava em “Filha da Mãe”).
O realizador já sabia que ia filmar esta tragédia quando partiu para a pesquisa. Ficou com centenas de páginas e histórias da noite porque a busca tornou-se "viciante". "Cada vez se descobrem personagens com mais histórias, histórias diferentes, mais escabrosas, mais melancólicas". Filmou só algumas delas - em "Noite Escura" há quase dois filmes paralelos, um na imagem outro no som, um é ficção, o outro é documental, um é tragédia, o outro é a vida "insignificante" das meninas do alterne. Cortou outras porque só funcionariam para um espectador português. Mas todas elas impregnaram o filme. As paredes do bar, os objectos, os actores, a câmara respiram alterne por todos os lados. O bar de "Noite Escura" é uma síntese das casas de alterne que se espalham pelo país. "Não se pode fazer ficção sobre uma coisa específica sem a conhecer profundamente", diz Canijo.
Joana Gorjão Henriques, “João Canijo, chefe desta família da noite”, in Ípsilon, 22 de Outubro de 2004, pp.18-21
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