Jia Zhang-ke, o realizador de Plataforma (站台), é um dos nomes-chave da chamada Sexta Geração do cinema chinês. Quanto a mim, é provavelmente o mais relevante desses realizadores e um dos, senão mesmo “o”, realizador dos anos 2000. As suas obras concretizam-se num espaço híbrido entre ficção e documentário (talvez em nenhuma esse hibridismo seja tão perfeito como no seu recente 24 City) e mostram-nos faces invisíveis de um país hoje permanentemente nos headlines. A China de Jia é a China que está para lá das extravagâncias olímpicas. E contudo, os seus filmes constituem alguns dos mais preciosos retratos (documentos?) desta China em mutação. As suas obras fixam os efeitos de uma mudança que o próprio apelidou de canibalística (“It's almost like China is eating its tail. It's going forward, but what it gets in return is disproportionate to what it loses”). A sua câmara fixa esses momentos, essa realidade que encompassa passado e futuro, as nostalgias e as dúvidas daqueles que, como os protagonistas de Plataforma, parecem ficar a ver o comboio do “progresso” passar sem saber como embarcar nele.
Deixo aqui uma entrevista ao autor em duas partes, na qual ele se refere a Plataforma. Para abrir o apetite para o (re)visionamento do filme dia 23:
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