sexta-feira, 18 de junho de 2010

Conferência Década dos Zeros em linha: (o1 ∧ o2)/o4





Continua (na próxima sexta, dia 9 de Julho)

sábado, 1 de maio de 2010

Conferência Década dos Zeros: resumo e introdução sem cortes

Um muito obrigado ao Bruno de Almeida, João Lopes, Fernando Cabral Martins e Luís Miguel Oliveira por terem dispensado quase 2 horas do seu tempo para nos oferecer uma interessantíssima conferência, onde se falou da década que passou e, sobretudo, porque é para aí que temos de estar sempre virados, das que aí vêm. Falou-se das novas formas de fazer e ver cinema, do "fim do cinema", do 3D, da realidade que é ficção e da ficção que é realidade (e das ficções e/ou realidades que existem nas nossas cabeças), "Avatar" foi o filme mais discutido, Godard foi citado por todos, Hitchcock não foi esquecido da equação e, claro está, falou-se de Tarantino.

Antes de ter colocado a primeira questão aos nossos convidados, disse algumas palavras (mais ou menos improvisadas) que fazem o balanço deste ciclo - o balanço do nosso balanço da década. Torno-as públicas aqui como teaser para o resto da conferência, que tentaremos publicar em vídeo neste espaço.


Se me permitem, gostava de começar esta conferência fazendo um balanço deste balanço da década dos zeros que acabámos de fazer.

Como surgiu esta ideia? Penso que este desafio nasceu da exploração daquilo que considero ser uma contradição estrutural no meio do cinema e, dentro dele, no meio académico, especificamente, no nosso mestrado de cinema e televisão.

Em realização cinematográfica, cadeira do mestrado de cinema e televisão, o nosso Professor João Mário Grilo falou, logo na primeira aula, daquilo que era para si o “fim do cinema”. Este discurso foi ganhando várias formas ao longo do semestre: como situar esse fim? Fim no sentido talvez que Fukuyama atribuiu ao seu fim da história: como se o cinema atingisse um ponto de esgotamento. Como aquela personagem de “Lady in the Water”: “já não resta qualquer originalidade no mundo”. Falo do crítico que Shyamalan executa sem piedade em jeito de vingança.

O cinema morreu, o que não quer dizer que se deixaram de fazer bons filmes mas que nem estes vêm acrescentar alguma coisa, contudo, como pode saber isso ou o contrário quem admite não ir ao cinema há anos, ter deixado de acompanhar as últimas tendências da sétima arte? Jacques Rivette*, numa entrevista publicada no site Senses of Cinema, criticava os seus colegas franceses por falarem mal do cinema de hoje sem o mínimo conhecimento de causa. Ao mesmo tempo, elogiava coisas tão díspares como Wong Kar-Wai e Paul Verhoeven, nomeadamente, o seu “Showgirls”. Gostava de saber o que pensa um realizador internacional como Bruno de Almeida sobre a relação dos cineastas com o cinema dos outros.

Muitos realizadores gostam de dizer isto: o cinema morreu e eu já não vou ao cinema. Arriscando-me a confundir consequência com causa, diria que esta proposição tende a ser paradoxal ou, no mínimo, a bloquear o pensamento. Se não vão ao cinema, como é que sabem com tanta certeza que o cinema está morto?

Olhemos para a programação da cadeira de realização: “Angel Face”, “L’atalante”, “The River”… Alguns filmes que, no seu tempo, foram ignorados, maltratados ou mesmo ridicularizados pela maioria. A distância entre lixo desprezível e obra-prima de estudo obrigatório pode ser mínima.

Tenho noção que a distância em relação à década que passou ainda não é suficiente para uma análise clara, mas cabe à faculdade, penso eu, iniciá-la – e João Lopes muito tem escrito sobre a falta de espaços onde se reflicta o cinema de ontem, hoje e amanhã para lá do discurso simplificador e estupidificante, mas epidémico do “gostei/não gostei”. Por isso, eu e mais 14 colegas, do cinema e não só, organizámos este ciclo.

Reunimos as listas publicadas nas revistas, blogues e sites da especialidade – The New Yorker, Cahiers du Cinéma, Sight and Sound, sound and vision** – e procurámos, respeitando a liberdade de escolha de cada um, fazer uma lista “original” ou que fugisse à norma deste tipo de exercícios – que tantas vezes apenas servem para consagrar filmes demasiado vistos, demasiado analisados e demasiado amados.

O balanço que Luís Miguel Oliveira fez da década, nas páginas do Público, foi inspirador: percebi que nesta década nomes como Rohmer, Mann e Cameron se podiam encontrar no espaço de poucas linhas. O nosso objectivo era espelhar assim o lado indefinível, amalgamante desta década. De Carpenter a Sissako, de César Monteiro a William Friedkin, de Jia Zhang-ke a Paul Auster… Estava assim formada uma lista B sem lista A.

E agora que já vimos e revimos todos os filmes, constato que as relações mais impensáveis são possíveis; que há qualquer coisa que liga a tragédia de “Noite Escura” à tragédia de “Bug”; que tanto “Ghosts of Mars” como “Lady in the Water” são filmes políticos – profecias não ouvidas da América George “axis of evil” Bush e Obama - ou fantasias do concreto, do palpável, um cinema de carne e osso em vias de extinção; lemos que “o pior cego é aquele que não quer ouvir” e, para chegar a esta conclusão da autoria de Francesco Giarrusso, basta ver e ouvir “Branca de Neve” – será isto um filme? Perguntou uma das espectadoras que resistiu à sessão. Vitoriosas foram as sessões onde houve discussão verbalizada ou não, luta entre o espectador e o filme. Não é fácil ver 2h30 de China em “Plataforma” e depois um filme na escuridão sobre uma branca de neve que diz sim a quem a quer matar – César Monteiro disse/diz não, mas ninguém o ouviu, ou melhor, ninguém o quis ouvir e, por isso, hoje em tempos de crise ele nos faz ainda mais falta.

Foi interessante ver como os fantasmas de Auster se podem cruzar com os fantasmas de Garrel num auditório em Lisboa com meia-dúzia de pessoas a assistir. Também o último filme de Carpenter está assombrado: pelos fantasmas de Marte e pelo fantasma da película, do scope, do western, do analógico versus o digital.

Por outro lado, como é possível que um continente inteiro caiba num tribunal e um tribunal nas traseiras de uma pequena vivenda no Mali? Talvez da mesma forma natural que o Portugal real pode caber numa casa de alterne a anos-luz do Portugal burguês de algum cinema e de quase toda a televisão nacionais – este foi o gesto de Canijo a rimar, à distância, com o de Sissako. E o que é que este realizador da Mauritânia tem a ver com Alexie, um homem das letras que nos fala do índio moderno no seu “The Business of Fancydancing”? Primeiro, nenhum deles se estreou comercialmente em Portugal e, segundo, em ambos fala-se de racismo e globalização.

Alexie e Auster, dois homens sobretudo das letras a fazer cinema. Qual a relação entre a palavra e o cinema nos nossos dias privados já de Rohmer mas com Tarantino?, podíamos perguntar isso a Fernando Cabral Martins.

Também vimos que “Mary” rima literalmente com “Gerry”, provavelmente, o mais belo filme de Gus Van Sant – mas, na altura, poucos olharam para ele. Em “Mary”, o discurso virou-se para a religião e vimos que, apesar do título, o protagonista é homem, aliás, o protagonista divide-se entre dois homens: o realizador e o entrevistador de televisão, as duas faces do problemático debate religioso em Ferrara. E o crucifixo é filmado como é filmado o telefone, a televisão ou o laptopmass media.

Pusemos a família Coppola no mesmo dia para ver que o pai continua a investir numa complexa “segunda juventude” e a filha segue, de algum modo, as pisadas da primeira juventude do pai.

Ao mesmo tempo, Versailles rimou estranhamente com Marte: em Carpenter, falámos de um western situado num futuro antigo – Hawks no século XXI ou o século XXI em Hawks? -; em Sofia Coppola, de um passado presente que mistura o século XVIII com os anos 80 quase com a mesma facilidade com que Tarantino, poucos anos depois, reescreveu os eventos da II Guerra Mundial. Tarantino foi citado três vezes nas nossas folhas, porque fez isto e porque, seguindo as pisadas de Carpenter (logo em “Death Proof”), pôs as mulheres no comando. É o grande presente ausente do ciclo.

Depois disto tudo, Douglas Gordon e Philippe Parreno vieram dizer-nos que o rosto, as expressões, as pernas e o andar de Zidane são o retrato do século; que, pela televisão, ele (quase reduzido a um pixel) parece acompanhado (por outros pixéis), mas, pelas suas múltiplas câmaras, o seu estado é de profunda solidão. Assim foi este ciclo.

To be continued...


*- Na conferência disse Resnais em vez de Rivette. Um erro que corrijo agora (apesar de saber que o primeiro continua a ser um cinéfilo atento, e um apreciador de Wong Kar-Wai e... séries de TV como "Lost").
** - Ver mais aqui e aqui.

Publicação do dia 30: "Zidane, un portrait du 21siècle"


"Zidane, un portrait du 21siècle" (2006) de Douglas Gordon & Philippe Parreno analisado por Hugo Costa:

Há pouco para dizer do que se costuma dizer de outros filmes. As sinopses falham, as comparações parecem-nos rebuscadas, os comentários onde se usa a palavra poesia não convencem. Zidane obriga-nos a um olhar atento, mas simultaneamente mais livre. Propondo ao espectador um trabalho de descoberta quase infantil, Zidane é mais do que uma experiência intelectual, somos nós e o filme e não nós e tudo o que sabemos.

O facto de querermos que o jogador Zidane seja um Herói, como o é no território televisionado, é apenas isso, nós a desejar, nós a acreditarmos na velha história do herói, porque foi assim que nos contaram a História do Mundo (como também a História do Cinema). Talvez tenha algum interesse recordar que o cinema começou por uma acção que não procurava inscrever um artista, um cientista, um fotógrafo, um cineasta, um teórico, em suma, qualquer tipo de Herói ou Demiurgo, mas antes, entender uma espécie de verdade sobre o movimento, ou, olhar o movimento como verdade.

Ler análise na íntegra aqui.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Publicações do dia 29: "Lady in the Water" e "John Carpenter's Ghosts of Mars"


"Lady in the Water" (2006) de M. Night Shyamalan analisado por Rita Benis:

“I miss your faces, they remind me of God”

Originalmente concebido como história de embalar – que M. Night Shyamalan contava e recontava, noite após noite, às suas duas filhas - o enredo de Lady in the Water foi sendo testado e desenvolvido de forma obsessiva até se tornar um projecto de filme, culminando por último num livro infantil: “a minha esperança para este livro é que não fique ligado ao filme depois deste ano, que continue e se torne uma história de embalar que as crianças ouçam ano após ano após ano... Isso seria o meu sonho: que esta história continue a ser contada e contada, e novas crianças a ouçam, que continue a crescer, a chegar a mais e mais crianças”. Este seu desejo está presente na ingenuidade de Lady in the Water: é a misteriosa confiança que une Shyamalan à sua obra. E a sinceridade com que expõe essa confiança deixa-nos perplexos e arrebata-nos.

Story dirige-se a Vick Ran (a personagem interpretada pelo próprio realizador), profetizando a vinda de um rapaz que lerá o seu livro: "este rapaz tornar-se-á líder deste país e irá iniciar um movimento de grande mudança. Ele falará de ti e das tuas palavras e o teu livro será a semente de muitos dos seus grandes pensamentos. Estes serão as sementes da mudança". Shyamalan deseja vir a inspirar alguém. Tudo bem. Mas a magia de Lady in the Water é alheia a esse desejo. O programa pensado e definido como moral da história, à priori, foi assim como que ultrapassado por outra poesia, mais completa e plena que o desejo inicial poderia supor. Os perigos que nele se abrem (essa tentação programática e sentimental) são derrotados pelo seu mistério. Aquilo que de mágico acontece em Lady in the Water tem mais a ver com um certo movimento, um certo som, uma ininteligível aura que o filme transporta – como se, depois de tudo concluído (montagem, misturas de som, etc), resultasse algo mais orgânico que qualquer idealização pudesse conceber: um apelo vivo que respira miraculosamente por si.

Ler análise na íntegra aqui.



"John Carpenter's Ghosts of Mars" (2001) de John Carpenter analisado por Luís Mendonça:

This is about one thing: dominion.

Para muita gente, Carpenter tem dado sucessivos passos em falso com os seus últimos filmes, nomeadamente, os mais recentes Vampires (1998) e este Ghosts of Mars. Talvez a sua estética, mais trashy e heavy metal, tenha confundido os menos atentos, porque, na realidade, Carpenter nunca foi tão bem sucedido a arriscar tanto.

Comecemos pelo que (praticamente) não mudou: a obsessão pelo “filme de cerco”, sobretudo, os westerns Rio Bravo (1959) e El Dorado (1966), ambos do seu ídolo Howard Hawks, onde a acção se concentra no espaço (uma prisão) e se expande no tempo (minutos passam e a história pouco avança).

Ler análise na íntegra aqui.

Futebol e conversa (à volta do cinema)

No auditório 1, Torre B, piso 1, projectamos:

Às 17h00, "Zidane, un portrait du 21e siècle" (2006) de Douglas Gordon & Philippe Parreno analisado por Hugo Costa




Às 18h40, a projecção dá lugar a uma introspecção com a ajuda das palavras (com imagens, seguramente) de João Lopes, Luís Miguel Oliveira, Bruno de Almeida e Fernando Cabral Martins. Venham falar do cinema que conhecem melhor: o do século XXI!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Publicações do dia 28: "The Business of Fancydancing" e "Bamako"


"The Business of Fancydancing" (2002) de Sherman Alexie analisado por Joana Rodrigues:

O filme The Businesse of FancydancingSherman é a primeira e única longa-metragem (até à data) do escritor nativo americano Sherman Alexie (Spokane / Coeur d’Alene), o mais recente vencedor do prémio literário americano PEN/Faulkner Award for Fiction, com o seu último livro “War Dances”. Em 2007, a sua obra “The Absolutely True Diary of a Part-Time Indian” foi também distinguido, entre outros, com o National Book Award for Young People’s Literature.

Não só pela peculiaridade de ser um filme realizado por um escritor reconhecido, como pelo facto de ser um exercício repleto de críticas irónicas às experiências dos nativo-americanos na contemporaneidade (característica que marca em grande parte a obra escrita do autor), este filme de Sherman Alexie representa, no panorama do cinema nativo americano contemporâneo, um esforço ousado e original para a transmissão de um ponto de vista postindian. Como o próprio termo indica, postindian refere-se à expressão cultural que procura a desconstrução do “índio”, no sentido de uma remodelação da sua imagem distorcida, a qual, no caso do cinema, tem o seu expoente máximo no “inimigo”que habita os westerns americanos. Sendo que The Business of Fancydancing é um filme indissociável do conceito de postindian tal como ele é defendido por Gerald Vizenor (um outro “peso-pesado” da literatura nativo-americana), vale a pena clarificar as intenções deste autor. Com efeito, a principal premissa do ponto de vista de Vizenor no que diz respeito a uma identidade postindian é a distinção que o autor faz entre “índio” e “nativo”. Assim, Vizenor explica que o “índio” é uma invenção colonial, uma ausência que não especifica a diversidade cultural das tribos nativo-americanas. O autor acrescenta que a atitude postindian desconstrói a ideia de “índio”, criando desta forma uma presença nativa que edifica as “verdadeiras” identidades dos povos nativo-americanos através de uma ponte para o futuro. Gerald Vizenor sugere ainda que o conceito postindian se inspira na figura do trickster, que, através do humor e da ironia, questiona e desconstrói estruturas estabelecidas, revertendo-as, neste caso, a favor dos nativos.

Ler análise na íntegra aqui.



"Bamako" (2006) de Abderrahmane Sissako analisado por David Barros:

Se por esta altura do ano passado me tivesse interrogado se já tinha visto cinema africano, responderia sem hesitação que sim e seriam múltiplas e variadas as imagens cinematográficas do continente que me viriam à mente. A verdade é que estas representações eram muito mais fruto de canais de veiculação imagética criados e controlados por europeus e norte-americanos do que o resultado de uma perspectiva cinematográfica africana. Grande parte das imagens em movimento que retinha de África eram, na verdade, oriundas da obra de um só cineasta, Jean Rouch, que defendia a sua subjectividade individual em contraposição à perspectiva europeia enviesada de que o acusavam os seus colegas africanos. Num conhecido debate entre Rouch e um dos mais importantes realizadores senegaleses, Mahama Traoré (que morreu, aliás, o mês passado em Paris), o cineasta africano explicou as suas reticências em relação ao monopólio estrangeiro das imagens do continente: “Il n’y a pas de doute que le principal cinéma qui montre les Africains est […] celui de Rouch. Il nous intéresse car il montre avec respect des coutumes, les nôtres, qui ont été bafouées par les Blancs. Mais ce que je reproche à Rouch, c’est son parti pris. Il lui faudrait parvenir à une totale objectivité. Il devrait enregistrer des images et les monter sans chercher à imposer son point de vue."

Ler análise na íntegra aqui.

É já amanhã, sexta-feira

Amanhã, chega ao fim o ciclo "Década dos Zeros" e estão todos convidados para discutir connosco os filmes, os realizadores e as transformações que a década produziu.

Dia 30 de Abril, às 18h40, no Auditório 1 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, vamos ter connosco para discutir estes temas:
João Lopes - crítico, professor e programador de cinema
Luís Miguel Oliveira - crítico de cinema e programador da Cinemateca Portuguesa
Bruno de Almeida - realizador
Fernando Cabral Martins - professor, crítico de cinema e colaborador assíduo de vários realizadores portugueses

Na mesa estarão questões como as ameaças que pairam sobre o cinema, o digital (da produção à exibição), o novo espectador de cinema, a inexistência de espaços de reflexão vs a proliferação de sites e blogs na internet, o estado do cinema português e todos os temas que queiram discutir connosco.

Apareçam e tragam um amigo também!

O fantástico das coisas concretas (pessoas incluídas)

Hoje (dia 29), abrimos as portas do auditório 1 (já para lá voltámos), piso 1, Torre B, para projectar:

Às 18h00, "Lady in the Water" (2006) de M. Night Shyamalan analisado por Rita Benis



(Como no caso da "Marie Antoinette", também publico o teaser em vez do trailer, mil vezes mais belo, mas seguramente não tão belo quanto o filme)


Às 21h00, "John Carpenter's Ghosts of Mars" de Manoel de Olivei... perdão, de John Carpenter analisado por Luís Mendonça


(Let's end this shit kicking some motherfucking asses!)

Amanhã

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Publicações do dia 27: "Marie Antoinette" e "Tetro"


"Marie Antoinette" (2006) de Sofia Coppola analisado por Ana Maria Campino:

Primeiro filme a poder ser rodado quase inteiramente em Versailles, Marie Antoinette de Sofia Coppola parece representar um novo olhar sobre o cinema de época e sobre a personagem de Maria Antonieta, revisitada devido à distância cultural e geográfica da realizadora, mas também graças a uma distância histórica.

Versailles

O primeiro dado marcante de Marie Antoinette sai da esfera propriamente cinematográfica: ele parece ser um sinal de abertura de Versailles à arte contemporânea, aos novos modos de gestão dos museus ou até mesmo a um novo olhar nacional sobre a personagem histórica (veja-se a popular exposição Marie Antoinette presente em 2008 no Grand Palais em Paris). Vivendo das receitas que produz e cada vez menos de subsídios públicos, grande parte dos museus franceses encontra como fonte de rendimento, para além da bilheteira, da venda de reproduções ou dos mecenatos, o aluguer de espaços para recepções e para rodagens de filmes. O filme Marie Antoinette, tal como The Da Vinci Code (2006) rodado em parte no Louvre, é assim um produto desta nova lógica de gestão museológica que, vinda dos Estados Unidos para a Europa, privilegia cada vez mais o lucro e a comunicação.

Ler análise na íntegra aqui.


"Tetro" (2009) de Francis Ford Coppola analisado por Ana Cabral Martins:

Tetro é um filme acerca do reencontro de dois irmãos na Argentina. Esse reencontro despoleta a descoberta de uma história de rivalidades que marcaram gerações de uma família emigrante italiana.

Começo por dizer que acho Tetro um filme particularmente bem conseguido porque sentimos em todos os momentos que estes foram pensados e executados meticulosamente. Não existe excesso, nem escassez. Tetro existe num plano que flutua sensivelmente entre uma realidade palpável – que sentimos pela crueza das imagens, ao que o preto e branco ajuda – e uma atmosfera que facilmente ligaríamos ao sonho. O filme começa com uma imagem que nos deixa imersos precisamente nessa atmosfera onírica: um grande plano de uma lâmpada num candeeiro, uma traça que anda à volta dessa lâmpada. Mas sobretudo o som, o barulho das asas a bater contra o vidro. Som, esse, que nos prende pela sua nitidez, a sua clareza, o coro de vozes que nos conduzem para uma ambiência que parece ser tudo menos terrestre, e um genérico que nos faz sentir que este filme se desprende da contemporaneidade e nos transporta para um tempo passado, povoado por memórias vagamente esquecidas. Todo o filme nos leva numa viagem entre a realidade – definida pelo preto e branco – e esse lugar onírico, entre o sonho e a memória – definido pela cor. Esta passagem constante entre realidade e sonho, memória dá-se sob o ponto de vista de Tetro. As memórias de Miranda continuam sob o signo do preto e branco.

Ler análise na íntegra aqui.

"The Business of Fancydancing" & "Bamako": hoje, a não perder!




A apresentação destes dois filmes no ciclo de cinema “Década dos Zeros” resulta da tentativa de complementar a ideia de “lista B” ao mostrar produções demasiado “alternativas” para constarem dum esquema estável de distribuição no mercado cinematográfico. Assim, tanto Bamako como The Business of Fancydancing, são produções que têm em comum a utilização da linguagem cinematográfica por povos que, à partida, não lhe poderão aceder tão facilmente, sobretudo devido a dificuldades financeiras e à impossibilidade de inserção num circuito à partida fechado e cuja liderança pertence a instituições poderosas com objectivos máximos de comercialização. Aqui fica então a oportunidade rara de apreciar cinematografias com um forte vínculo cultural e que são basilares no retrato de vivências que, por falta de informação, nos passam despercebidas.

Um dos mais belos filmes do mundo


A Rita não me levará a mal. É que "Lady in the Water" é um dos meus filmes favoritos e, lá está, como em todos estes casos de "filmes incompreendidos" ou "mal-amados" eu sinto-o mais como "meu" do que os outros - e, um aparte, não há obra que capte de forma tão lapidar a América Bush, melhor, a América pré-Obama (believe in change!). Por isso, presto-lhe homenagem deixando aqui, em jeito de antecipação, um textozito pequeno que um dia escrevi para uma revista de cinema on-line já extinta. Rita, mil desculpas, mas não resisto.

Em “A Senhora da Água”, mergulhamos num lugar microcósmico típico em Shyamalan: em vez de uma casa isolada numa vasta seara (“Sinais”) ou de uma vila cercada pela floresta (“A Vila”), um condomínio situado algures nos Estados Unidos serve de cenário a uma fábula contemporânea sobre o amor como reacção ao sentimento de apatia e abandono que tem esvaziado as sociedades ocidentais.

Cleveland Heep (melhor papel de sempre de Paul Giamatti), o superintendente dos edifícios, é um homem bondoso, que vive diariamente com a memória da perda brutal da sua família. Numa noite igual às outras, Cleveland é acordado pelo ribombar de um rocket: ninguém escapa à guerra que passa, em directo, na TV e há mesmo um inquilino que perdeu a esperança e abdicou de viver fora do ecrã – o primeiro cerco de “A Senhora da Água” é mediático, tal como em “Sinais”.

O atordoamento de Cleveland provocado pela reportagem da guerra (tão longe, tão perto...) cedo é interrompido pelo som misterioso de um chapinhar, vindo da piscina do condomínio. Instantes mais tarde, percebemos que esta serviu de canal de entrada no mundo dos homens para uma ninfa, de nome Story (luminosíssima Bryce Dallas Howard), que diz ter vindo do “Mundo Azul” com o objectivo de salvar a humanidade. Todavia, monstros ferozes, nascidos da terra como árvores, irão fazer de tudo para perpetuar a divisão entre terra e água – eis que se eleva o segundo cerco. Contra todas estas adversidades, a redenção acontece graças ao amor que liga Cleveland a Story e que culmina na comovente cena da cura "miraculosa" da ninfa.

(texto publicado originalmente na revista Red Carpet, Junho de 2008)

Os inéditos

Hoje (dia 28), abrimos as portas do auditório 3 (não do auditório 1 como previsto), Torre B, piso 5, para projectar:

Às 18h00, "The Business of Fancydancing" (2002) de Sherman Alexie analisado por Joana Rodrigues





Às 21h00, "Bamako" (2006) de Abderrahmane Sissako analisado por David Barros



Antecipação por Joana Rodrigues:

A apresentação destes dois filmes no ciclo de cinema “Década dos Zeros” resulta da tentativa de complementar a ideia de “lista B” ao mostrar produções demasiado “alternativas” para constarem dum esquema estável de distribuição no mercado cinematográfico. Assim, tanto Bamako* como The Business of Fancydancing, são produções que têm em comum a utilização da linguagem cinematográfica por povos que, à partida, não lhe poderão aceder tão facilmente, sobretudo devido a dificuldades financeiras e à impossibilidade de inserção num circuito à partida fechado e cuja liderança pertence a instituições poderosas com objectivos máximos de comercialização. Aqui fica então a oportunidade rara de apreciar cinematografias com um forte vínculo cultural e que são basilares no retrato de vivências que, por falta de informação, nos passam despercebidas.

Amanhã e depois

*Sobre "Bamako", eu, Luís Mendonça, recomendo a leitura de um texto assinado por um dos seus mais fervorosos fãs e divulgadores: Jonathan Rosenbaum.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Publicações do dia 26: "Bug" e "Noite Escura"


"Bug" (2006) de William Friedkin analisado por André Rebocho:

What a director’s doing at all times in a film is creating an atmosphere where the actors feel free not only to perform, but to expose themselves in some way.

Bug passou relativamente despercebido, aquando da sua estreia nas salas portuguesas no verão de 2007, ofuscado pelo sucesso estrondoso de blockbusters como a terceira parte de Piratas das Caraíbas e alguns outros sucessos garantidos a que Hollywood nos habituou na silly season.

É interessante ver como Friedkin consegue trazer-nos algo de verdadeiramente novo, algo perturbadoramente refrescante, numa década em que a indústria cinematográfica americana, impulsionada pela necessidade de fazer frente à ameaça da internet e do DVD pirata, se virou para a repetição de tudo quanto sejam fórmulas de êxito garantido, explorando ad nauseum - e com sucesso variável – a produção de sequelas e remakes, começando por reciclar grandes sucessos de outrora até chegar ao ponto em que qualquer película, por mais esquecida e imemorável que tenha sido no passado, volte a ver a luz do dia, desta vez com uma roupagem adequada aos “padrões” da época: algo parecido com um videoclip da MTV com a duração de uma hora e trinta minutos.

Ler análise na íntegra aqui.


"Noite Escura" (2004) de João Canijo analisado por Sara Campino:

Aqui não se ouve a voz dos deuses que na tragédia grega cantam de forma eloquente a sua ira. Aqui a impiedade suprema não mora no Olimpo, mas é igualmente poderosa perante quem a desafia. Oprime sem retórica, nem deslumbramento, agindo brutalmente sobre cada vítima. Mais uma vez João Canijo explora uma situação limite, (percurso iniciado com o filme Sapatos Pretos, de 1998), utilizando os recursos mitológicos e estilísticos da tragédia grega (presentes com regularidade na sua filmografia desde Ganhar a Vida, 2001), que faz convergir para uma unidade eficazmente coesa. Tudo se comprime no mundo fechado e marginal do alterne, onde se vende a ilusão vigiada do prazer e da transgressão. Por isso, as regras de quem controla este jogo são sempre explicitadas, não sendo tolerada qualquer inversão de papéis.

A resistência a esta opressão opera-se sobretudo através das palavras, quando ameaçam gestos libertadores, que são sumariamente aniquilados após qualquer tentativa de concretização. Quem se alonga em discursos são, por isso, as vítimas, dispensando o modo de elevação das famílias da realeza do imaginário clássico.

Ler análise na íntegra aqui.

Tal pai tal filha ou será antes o contrário?

Hoje (dia 27), abrimos as portas do auditório 1, Torre B, piso 1, para projectar:

Às 18h00, "Marie Antoinette" (2006) de Sofia Coppola analisado por Ana Maria Campino


(Claro que não publico o trailer, mas o teaser do filme, uma obra-prima em si mesmo)

Às 21h00, "Tetro" (2009) de Francis Ford Coppola analisado por Ana Cabral Martins




Amanhã e depois

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