quarta-feira, 28 de abril de 2010
Publicações do dia 27: "Marie Antoinette" e "Tetro"
"Marie Antoinette" (2006) de Sofia Coppola analisado por Ana Maria Campino:
Primeiro filme a poder ser rodado quase inteiramente em Versailles, Marie Antoinette de Sofia Coppola parece representar um novo olhar sobre o cinema de época e sobre a personagem de Maria Antonieta, revisitada devido à distância cultural e geográfica da realizadora, mas também graças a uma distância histórica.
Versailles
O primeiro dado marcante de Marie Antoinette sai da esfera propriamente cinematográfica: ele parece ser um sinal de abertura de Versailles à arte contemporânea, aos novos modos de gestão dos museus ou até mesmo a um novo olhar nacional sobre a personagem histórica (veja-se a popular exposição Marie Antoinette presente em 2008 no Grand Palais em Paris). Vivendo das receitas que produz e cada vez menos de subsídios públicos, grande parte dos museus franceses encontra como fonte de rendimento, para além da bilheteira, da venda de reproduções ou dos mecenatos, o aluguer de espaços para recepções e para rodagens de filmes. O filme Marie Antoinette, tal como The Da Vinci Code (2006) rodado em parte no Louvre, é assim um produto desta nova lógica de gestão museológica que, vinda dos Estados Unidos para a Europa, privilegia cada vez mais o lucro e a comunicação.
Ler análise na íntegra aqui.
"Tetro" (2009) de Francis Ford Coppola analisado por Ana Cabral Martins:
Tetro é um filme acerca do reencontro de dois irmãos na Argentina. Esse reencontro despoleta a descoberta de uma história de rivalidades que marcaram gerações de uma família emigrante italiana.
Começo por dizer que acho Tetro um filme particularmente bem conseguido porque sentimos em todos os momentos que estes foram pensados e executados meticulosamente. Não existe excesso, nem escassez. Tetro existe num plano que flutua sensivelmente entre uma realidade palpável – que sentimos pela crueza das imagens, ao que o preto e branco ajuda – e uma atmosfera que facilmente ligaríamos ao sonho. O filme começa com uma imagem que nos deixa imersos precisamente nessa atmosfera onírica: um grande plano de uma lâmpada num candeeiro, uma traça que anda à volta dessa lâmpada. Mas sobretudo o som, o barulho das asas a bater contra o vidro. Som, esse, que nos prende pela sua nitidez, a sua clareza, o coro de vozes que nos conduzem para uma ambiência que parece ser tudo menos terrestre, e um genérico que nos faz sentir que este filme se desprende da contemporaneidade e nos transporta para um tempo passado, povoado por memórias vagamente esquecidas. Todo o filme nos leva numa viagem entre a realidade – definida pelo preto e branco – e esse lugar onírico, entre o sonho e a memória – definido pela cor. Esta passagem constante entre realidade e sonho, memória dá-se sob o ponto de vista de Tetro. As memórias de Miranda continuam sob o signo do preto e branco.
Ler análise na íntegra aqui.
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